26 de outubro de 2013

Amor que pixels



Em pleno século XXI, em meio a facilidades de entregar a organização da nossa rotina a apps e manter nossa memória em cartões e chips, temos entregado também nosso coração ao acaso de sistemas operacionais e softwares. Essas opções mais rápidas e produtivas aproximam virtualmente, facilitam o contato e possibilitam a troca de informações, mas, ao mesmo tempo, distanciando pessoas da obrigação de realmente se conhecer -até porque não dá pra acreditar em tudo vemos ou lemos o que faz da convivência algo necessário até hoje.

Atualmente existem vários aplicativos - ou apps - de paquera, tanto héteros quanto gays, isso é o de menos. O fato principal é que pessoas estão buscando pessoas de uma forma muito diferente de antes: pelo nome, pela foto e pelo perfil. Pare um pouco pra pensar e se pergunte “o que eu fazia pra conhecer pessoas anos atrás?”. As respostas são muito variáveis, pois depende muito do estilo de vida de cada um, mas certamente todas têm uma coisa em comum : sair.

Seja ir pra balada, um barzinho, viajar, jogar dominó e tomar uma gelada. Saíamos pra nos divertir e conhecer pessoas. Até isso hoje em dia tem recebido outra conotação e ganhou o caráter muito mais de exposição social do que propriamente divertimento. Aquele lance de “quem não é visto não é lembrado”.

Pessoas têm conhecido pessoas em redes sociais e mantido essa relação ali mesmo. ‘Amigos virtuais’ são um fenômeno dos últimos cinco anos, tempo em que as pessoas entenderam os limites desse relacionamento: "você é muito divertido nas redes sociais, mas prefiro que seja somente isso". Quando essa relação ultrapassa essa fronteira do virtual, muitas vezes as relações não são exatamente o que se esperava. Então é melhor deixar como está.

Voltando a falar nos apps. Eles são sim uma ótima opção para conhecer pessoas e, mesmo em viagem no exterior é possível encontrar usuários do mesmo país e língua. O app utiliza sua localização de GPS para rastrear usuários próximos a você, consequentemente, permite que você se comunique com quem sentir afinidade. Se o intuito do usuário for somente sexo, essa é uma opção bem válida, mas se não, sugiro tentar as redes sociais mais convencionais.

Outra coisa interessante acontece quando é ultrapassada essa fase de primeiro contato. Antes trocávamos telefones e, posteriormente, ligações ou mensagem de texto, o SMS. Hoje continuamos trocando telefones, mas não com o mesmo objetivo. Continuamos trocando mensagem, a diferença é a proporção e quantidade alcançada através do famoso whatsapp.

Ainda comparando, antes marcávamos encontro mais rapidamente, hoje trocamos fotos do que estamos fazendo durante o dia. Muito louco imaginar esses distanciamento e pensar que, por outro lado, envolvemos ainda mais uma pessoa em nossa rotina, a diferença é que ela não está de fato lá, somente os pixels e os dados nos acompanham.

Você deve estar pensando: o que amor tem a ver com isso? É exatamente nesse ponto que preciso chegar. O amor é expressado hoje em dia de outras formas, diferentes no formato, mas não muito na essência. Quando amamos alguém queremos ela sempre perto, mas esse querer perto não significa ter perto o tempo todo. Nesse sentido, essa era de relacionamentos virtuais e aplicativos compensativos ajuda bastante, pois durante o dia é possível manter contato, seja por ligação, mensagens, fotos, textos e voz e assim sentir-se menos distante e mais envolvido com a rotina do outro.

Isso supre, em parte, a distância causada por nossas rotinas cada vez mais cheias de afazeres e lotada de eventos marcados na agenda e compromissos, almoços, reuniões. Mas claro, não é suficiente. Nada supera o toque, o som da voz, o cheiro, a tranquilidade transmitida pela presença de alguém que gostamos. Aplicativos são subterfúgios para a dependência que temos em nos manter conectados e também a opção que encontramos para continuar nos sentindo próximos de algo que seja vivo e não somente composto de pixels em um banco de dados.

Amor da era da informação é sinônimo de rapidez e praticidade, mas também significa facilidade e proximidade, mesmo que virtual. Os caminhos que temos hoje, ao passo que nos tornam dependentes também se adequam àquilo que buscamos: seja sexo casual, seja amizade, seja amor. No final, percebemos que a forma não importa muito, o importante na verdade é se sentir menos sozinho.

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